Chris Ritchie
Linha do tempo
A tênue linha que divide
submerso e superfície
precisamente perfurada
pela flecha abissal flui
em ondas excêntricas
de descomunal simetria.
Por um instante se abala
a tensão da harmonia
e a diferença entre viver
e mergulhar vem à tona
com a lâmina que rasga
a água sob o céu da tarde
e acerta o pescoço
do albatroz que estatela
na falsa paz do lago.
Com o peso de seu mundo
afunda diante de indiferentes
criaturas até a bocarra medonha
que o espera aberta e ardente
para digerir pena, tripa, asa
e virá-las em mais um sonho.
Tempo nublado
Por trás de nuvens brancas,
o contraste azul.
Sabe-se que é dia
ou noite,
se irá chover
logo ou amanhã.
Por trás do contraste,
a Terra,
sob o olhar da astronauta
ou de Deus
se preferes promessas,
VIVE .
Do coração, o grito
é abafado pelo que resta
de razão.
Lavamos o cotidiano
nos gestos de prender à vida,
já que amor só leva a sonho.
E do sonho, a certeza
de existir
em diferentes planos.
Sonhemos todas as vidas,
o amor não cabe no real,
apenas dele começa e se estende,
sem ameaça.
Sob a cortina cinza
no céu de hoje
não há como saber
que horas são.
Nem astronauta ou Deus nos vê,
difícil dizer se o tempo firmará
ou nos matará num pesadelo
de desamor
assim que dormirmos.
(foto do céu na manhã de 8/10/18 em São Paulo, haverá segundo turno para a eleição de presidente)